segunda-feira, 16 de novembro de 2009

1969:Minha chegada a Itu

O carnaval de 1969 fora passado no sítio de meus tios na estrada de 7 Quedas,chegando a São Paulo onde tinha nascido em 1952 na Rua Oscar Freire,local nobre à época para morar e brincar nas ruas de carrinho de rolemã e jogar bolinha de gude, tive a resposta que não havia vaga em escola estadual para o colegial, tinha terminado o ginásio no Colégio Paes Leme em sua última turma na avenida Paulista esquina com rua Augusta. De pronto arrumei as malas e voltei sózinho a Itu hospedando-me na casa de uma tia e primas no largo do quartel e de imediato procurei o Regente Feijó onde fui aceito como aluno, as aulas já tinham iniciado.Acompanhado pela secretária do Instituto fui conduzido ao 1º colegial masculino e ao adentrar a sala e ser apresentado, abri um sorriso e um colega logo gritou:"Mas que rapaz simpático"!Era o colega Carramenha e durante toda minha vida escolar em Itu fui chamado de SIMPÁTICO.A novidade de um rapaz récem chegado da capital logo se espalhou e os convites para festas não faltaram, aniversários de 15 anos da Regina Dulce na rua dos "ricos", da Nairzinha Leitão na rua Presidente Kenedy e da Lucinha Feriozi no sobradão da rua Floriano Peixoto,momentos inesquecíveis, dançar a valsa com 15 casais a volta da debutante!O resto das memórias são as mesmas que todos que viveram essa época,cinema aos domingos no Marrocos,sempre no mesmo lugar com os camaradas Dito Marangoni e Edmar Romanatto, às vezes no Cine Boni,pizzas no Bellucci,bailes do Ituano Clube,ficando a decepção de nunca ter ido ao Baile do Chopp,proibido para menores de 18 anos, quando os completei tinha acabado o dito baile!E não poderia esquecer, "a 1ª noite de um homem" passada na zona de Viracopos e as "lembranças tristes de uma noite alegre" ou seja passagem pela Farmácia do Seu Amélio comprar antibiótico por motivos óbvios!Acredito que seja um mote para futuras recordações e registro de um passado recente.

sábado, 14 de novembro de 2009

Sobre a comunidade israelita em Itu

Havia uma pequena, mas ativa comunidade israelita em Itu: comerciantes, profissionais liberais. Mas não havia um local público de culto.
Um colega nosso, o hoje Secretário Municipal de Esportes de São Paulo, Dr. Walter Feldman, nos conta como era a educação religiosa e étnica dessa comunidade em um artigo de seu blog que nos autorizou a reproduzir:



Memórias de Itu e de Paulo Feldman

Na semana passada citei aqui uma frase tocante da bailarina Márika Gidali, fundadora do Ballet Stagium. Húngara de nascimento, Márika chegou em São Paulo em 1947, fugida dos horrores da Guerra. Num depoimento em nossa reunião das sete, ela disse que a primeira impressão que teve desta cidade é que ela era como um abraço.

Não foi só ela. Em diferentes épocas, milhares de pessoas aqui chegaram para viver um mesmo sentimento de esperança e recomeço.

Meu pai, Paulo Feldman, foi uma delas.

Ele chegou em 1936, um pouco antes dos desatinos da Guerra e da fase mais sanguinária do nazismo.

Foi, também, um batalhador, dessas pessoas que do quase nada são capazes de reconstruir toda uma vida.

A partir de 1956 fomos morar em Itu, minha cidade de infância, da qual guardo a melhor memória do tempo em ali vivi, entre 1957 e 1967. Bem, nem tudo foi perfeito. Eu era muito bom na escola, mas na verdade eu queria brilhar mesmo era nos infantis do Itu, onde fui um ponta-direita bastante dedicado. Não deu. No basquete também não fui longe, não estava, digamos, à altura.

Volto ao meu pai, um exemplo de autodidata tenaz e generoso.

Paulo Feldman chegou da Polônia com 23 anos e extremo fervor se dedicou a entender melhor a língua e alma da terra. Ele falava russo, polonês, hebraico. Fundou aqui um inquieto Movimento Juvenil Hebraico.

Em Itu, depois de semana inteira de viagens a negócios pelo interior, achava tempo para ensinar a Torá e xadrez para crianças da pequena comunidade judaica local. Foi, em xadrez, o que eu sonhei ser em futebol, um campeão imbatível.

Em suas aulas informais, discutia as grandes datas da religião judaica a partir do seu sentido essencial de perdão, solidariedade e esperança. Ele conhecia o valor da esperança em tempos difíceis.

Há pessoas cuja luz e simplicidade a gente leva vida afora como uma provisão para as novas batalhas.

Meu pai foi uma dessas pessoas.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

O Incêndio da Casa Longhi



A Casa Longhi era uma loja de modas (como era classificada na época), onde se vendiam trajes masculinos e femininos para diversas ocasiões, além de sapatos, cintos, meias, lenços, chapéus, enfim, tudo que seria necessário para se trajar adequadamente.


Não me lembro exatamente a data, mas era um domingo já nos meses finais do ano de 1971, por volta das 11h00, a Banda Sinfônica da Volkswagen dava um concerto no coreto da Praça da Matriz quando irrompe o fogo no prédio, um sobradão altivo, em cuja fachada flutuava uma marquise art decô de ferro e vidro jateado, sem conexão com as linhas sóbrias da construção típica do século XIX.




A população, extasiada, se dividia entre as duas atrações: o fogaréu e a música. Enquanto se aguardava a chegada dos bombeiros de Sorocaba, pois não havia destacamento em Itu, um grupo de voluntários intrépidos seguem pela Rua 7 de Setembro e alcançam o Salão de Snooker que havia e descem com as pesadas mesas, outro grupo adentra na pastelaria de um chinês que havia no térreo naquela fachada, e retira todas as máquinas e equipamentos, mas de forma desastrosa, arrebentando-as todas e aumentando o prejuízo do empreendedor oriental, que aos gritos, tentava detê-los.




Quando o fogo já estava alto e praticamente incontrolável, a Banda Sinfônica ataca a Cavalaria Rusticana de Leoncavallo e neste momento, entre a alameda de palmeiras imperiais surge o primeiro carro do comboio de bombeiros, num sincronismo digno de filme americano.




Mas era tarde, a estrutura de alvenaria, adobe e pau a pique não suportou o calor e desabou.




Foi desta forma espetacular e até festiva que Itu perdeu mais um de seus tesouros arquitetonicos.