sábado, 14 de novembro de 2009

Sobre a comunidade israelita em Itu

Havia uma pequena, mas ativa comunidade israelita em Itu: comerciantes, profissionais liberais. Mas não havia um local público de culto.
Um colega nosso, o hoje Secretário Municipal de Esportes de São Paulo, Dr. Walter Feldman, nos conta como era a educação religiosa e étnica dessa comunidade em um artigo de seu blog que nos autorizou a reproduzir:



Memórias de Itu e de Paulo Feldman

Na semana passada citei aqui uma frase tocante da bailarina Márika Gidali, fundadora do Ballet Stagium. Húngara de nascimento, Márika chegou em São Paulo em 1947, fugida dos horrores da Guerra. Num depoimento em nossa reunião das sete, ela disse que a primeira impressão que teve desta cidade é que ela era como um abraço.

Não foi só ela. Em diferentes épocas, milhares de pessoas aqui chegaram para viver um mesmo sentimento de esperança e recomeço.

Meu pai, Paulo Feldman, foi uma delas.

Ele chegou em 1936, um pouco antes dos desatinos da Guerra e da fase mais sanguinária do nazismo.

Foi, também, um batalhador, dessas pessoas que do quase nada são capazes de reconstruir toda uma vida.

A partir de 1956 fomos morar em Itu, minha cidade de infância, da qual guardo a melhor memória do tempo em ali vivi, entre 1957 e 1967. Bem, nem tudo foi perfeito. Eu era muito bom na escola, mas na verdade eu queria brilhar mesmo era nos infantis do Itu, onde fui um ponta-direita bastante dedicado. Não deu. No basquete também não fui longe, não estava, digamos, à altura.

Volto ao meu pai, um exemplo de autodidata tenaz e generoso.

Paulo Feldman chegou da Polônia com 23 anos e extremo fervor se dedicou a entender melhor a língua e alma da terra. Ele falava russo, polonês, hebraico. Fundou aqui um inquieto Movimento Juvenil Hebraico.

Em Itu, depois de semana inteira de viagens a negócios pelo interior, achava tempo para ensinar a Torá e xadrez para crianças da pequena comunidade judaica local. Foi, em xadrez, o que eu sonhei ser em futebol, um campeão imbatível.

Em suas aulas informais, discutia as grandes datas da religião judaica a partir do seu sentido essencial de perdão, solidariedade e esperança. Ele conhecia o valor da esperança em tempos difíceis.

Há pessoas cuja luz e simplicidade a gente leva vida afora como uma provisão para as novas batalhas.

Meu pai foi uma dessas pessoas.